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O que é a biblioterapia e como ela pode promover auto-conhecimento?

A palavra “biblioterapia” tem origem grega, e significa cura (therapeia) pelos livros (biblion). Livros contam histórias de pessoas, ou, quando não, de personagens que representam pessoas (animais ou objetos personificados), e por isso acabam retratando relações e situações que fazem parte das nossas vidas. Toda leitura implica em interpretação, uma vez que nós assimilamos o texto e damos determinado sentido a ele de acordo com a nossa própria experiência de vida e visão de mundo. Filtramos os aspectos com os quais nos identificamos, e descartamos aqueles que não fazem sentido, que não nos correspondem (Caldin, 2001).

A biblioterapia é realizada em grupo e parte de uma leitura dirigida, ou seja, uma determinada obra literária é prescrita em função dos aspectos a serem evocados, de acordo com o contexto onde a intervenção é realizada. A leitura em grupo, acrescida das reflexões posteriores, propicia a compreensão e a expressão de sentimentos por meio de identificação. Ao reconhecer os sentimentos elucidados e compartilhá-los com o resto do grupo, o indivíduo pode se valer da troca de experiências e interação com seus iguais para promover autoconhecimento.

Segundo Caldin (2001), o processo biblioterapêutico ocorre em etapas e possui diversos componentes. Alguns deles são descritos abaixo:

1)  Identificação: nesta etapa, o indivíduo pode assimilar aspectos de um personagem ou da narrativa;
2)  Introjeção: segundo a Gestalt-terapia, é caracterizada pelo processo de trazer para dentro aquilo que vem de fora, ou seja, incorporar concepções provenientes do contato com a história;
3)  Projeção: definida, também pela Gestalt-terapia, como sendo a transferência de aspectos internos de si mesmo para o outro;
4)  Catarse: descarga e libertação das emoções, caracterizada pelo envolvimento emocional do leitor com a história;
5)  Introspecção: etapa em que o indivíduo pode fazer uso da consciência reflexiva para considerar seus processos internos e, se for o caso, gerar transformação.

Executada com a mediação de um profissional, a biblioterapia pode promover diversos benefícios, tais como: identificação e formação de vínculo entre os participantes; autoconhecimento, elaboração e ressignificação de experiências, vivências e emoções; crescimento emocional; canalização e direcionamento da energia.


FONTES:
ALMEIDA, Geise Maria. A leitura como tratamento: diversas aplicações da biblioterapia. Universidade Federal do Amazonas, Janeiro de 2011.
CALDIN, Clarice Fortkamp. A leitura como função terapêutica: biblioterapia. Universidade Federal de Santa Catarina, 2001.

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