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A blindagem social que as redes sociais nos fornecem

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Textões, caixas coloridas de mensagem, debates nos comentários do G1, (muita) agressividade e hostilidade, fotos espetaculares, são alguns fenômenos que acontecem nas redes sociais. E estes têm relação com o tema sobre blindagem que iremos discutir.
Acredito que é de senso comum que se expor nas redes sociais é diferente de se expor na vida real. Isso não é generalizar que para todas as pessoas é assim, é apenas apontar o fato, e percebemos que ele não causa estranheza para a maioria das pessoas. Há muita gente que se sentem muito mais à vontade em expor opiniões nas redes sociais (seja em comentários de portais de notícias ou na própria linha do tempo), do que fazer esta exposição na vida real – até mesmo para as pessoas mais próximas e íntimas. Ora, até para mim é assim, ao agir irrefletidamente me pego no ímpeto de escrever um textão sem muita utilidade ou comentar algo para pessoas que não estão abertas a dialogar.
É um fenômeno interessante, do ponto de vista psicológico, e por isso – ao analisar por esta perspectiva – acredito ser prejudicial para todos nós, usuários das redes sociais.
Mas por que somos prejudicados por isso? E talvez uma pergunta para respondermos antes é: por que existe esta blindagem social com as redes da web? Qual fenômeno humano por trás disso?

A blindagem das redes sociais toma forma

A ideia central é: as redes sociais fornecem uma blindagem para a exposição de nossa figura. Isso acontece pois as variáveis psicossociais são diferentes quando nos expomos na vida real e nas redes sociais.
A experiência que constituímos na realidade é muito distinta da experiência no Facebook, por exemplo. Enquanto na vida nosso desenvolvimento psicossocial foi construído por controle social imediato e com consequenciações diversas (tanto positivas quanto negativas – algumas vezes mais negativas), nas redes a exposição tem muito mais consequências positivas para o que expomos. Você sabe do que estou falando: a controversa CURTIDA, compartilhamentos, etc.
Não me surpreende que muitos usuários reivindicam que tenha também a opção NÃO CURTI, pois parece que as pessoas no geral sentem falta de dar consequências negativas para coisas que outras postam. Mas sabe de uma coisa, de um ponto de vista de popularidade do Facebook isso dificilmente irá ocorrer. Se o Mark Zuckerberg finalmente implementar isso, é provável que o Facebook perca popularidade e engajamento, pois ao estabelecer consequências negativas, a ocorrência de posts, comentários, etc., irá diminuir bruscamente.
Isso acontece simplesmente porque é assim que o comportamento humano funciona.
Por que as pessoas estão mais inclinadas a expor no Facebook do que na vida real? Porque na vida real há maior possibilidade de obter consequências negativas (repressão, contra-argumentos, etc.), do que no Facebook. Na rede social, o mais provável é que a pessoa irá receber curtidas, compartilhamentos e comentários positivos. O próprio sistema do Facebook modela o uso dele e as nossas atitudes dentro dele.
E mesmo para os comentários negativos que as pessoas recebem, não há diversos elementos sociais que existiriam na vida real. Como olhares de repreensão, reprovação social, etc. E ainda é possível ter muito cuidado e planejar bem o que comentamos, pois é possível digitar, apagar, mudar o texto, falar na hora que quiser, etc. Na vida real tudo acontece no AGORA. Falou, está falado, não é possível apagar. É mais provável que iremos falar coisas sem sentido, ou de argumentação fraca - o contrário das redes sociais. Estes são comportamentos bastante indesejados por nós, certo?
Tudo isso contribui para que ocorra maior exposição nas redes sociais do que na vida real.

Os arquétipos humanos nas redes sociais

Existe outro fenômeno psicológico que explica porque há maior exposição nas redes sociais. Segundo a Psicologia Analítica de Carl Jung, todos nós seres humanos temos algo em comum, mas também temos características que nos diferenciam de todas as outras pessoas.
Temos o inconsciente coletivo (compartilhado) e o inconsciente pessoal (próprio de cada um). No inconsciente coletivo temos os arquétipos, que são características universais em potencial de todos nós. Dois desses arquétipos são a Persona e a Sombra.
A sombra constitui todas as nossas características que não reconhecemos e/ou percebemos, e que portanto queremos esconder e não mostrar ao mundo, por serem consideradas indesejáveis socialmente.
A persona são as características que a sociedade deseja, e que queremos mostrar ao mundo e gostamos de experiencia-las, diferentemente da sombra.
Estes arquétipos são opostos, em um continuum. Muitos sofrimentos psicológicos acontecem porque as pessoas não integram ou aceitam a sombra que lhes é parte, e vivem resistentes tendendo ao arquétipo da persona. Mas é impossível esconder eficazmente a sombra, em algum momento teremos que lidar com ela, pois não é possível exclui-la de nós. Aí vem o sofrimento!
As redes sociais facilitam que as pessoas tenham a experiência da persona de forma prevalente. É muito mais agradável a persona, por isso a buscamos tanto. E a sombra traz muito desagrado.
Nas redes é muito mais fácil controlar o que é expresso por nós. Fotos são um exemplo marcante disso. A tendência é postar fotos que irão ganhar curtidas, aquelas em que estamos belos e esbeltos, pois é esta a parte da gente que queremos mostrar para o mundo.
Também em postagens de textão ou caixas coloridas. Seremos inteligentes, engraçados ou pessoas interessantes em tudo que postamos. É quase um paraíso em que existe somente o belo e agradável.
Daí vem o grande prejuízo citado no início do texto.

Os prejuízos das redes sociais

Enfim, os prejuízos estão relacionados ao que já foi falado no texto. Devemos tomar consciência de que nas redes sociais é muito mais provável ganharmos atenção positiva do que na vida real. Possivelmente as relações sociais das pessoas podem ser prejudicadas na vida real, por haver uma discrepância grande da realidade de controle social do Facebook, Instagram, Twitter, e da vida. Pode levar as pessoas a estabelecer relações baseadas em ganhar apreços e valorizações, mas na verdade o verdadeiro valor vem de dentro, em reconhecer os aprendizados que as diversas experiências (positivas ou negativas) nos dão.
E ao prevalecer a Persona tão fortemente como nas redes sociais, provavelmente as pessoas sofrem mais por querer atingir um padrão ou desejo social de aprovação. De acordo com a psicologia analítica junguiana, tomar consciência da Sombra, é uma atitude emocionalmente saudável, e sofrimentos desta natureza são diminuídos ao aceitarmos isso e usarmos para nosso crescimento e amadurecimento.

O importante é reconhecer que esses fenômenos existem! Mesmo sendo usuário das redes sociais, uma pessoa não estará necessariamente sofrendo por isso. A tomada de consciência deste fenômeno de blindagem social é uma atitude que tira as pessoas da alienação e repetição deste padrão. Caso queira conversar mais sobre isso, ou sugerir alguma ideia, você pode entrar em contato com a gente!

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