O
título sugere que a vida está condicionada ao sofrimento. Deixe-me explicar o
que quero dizer com isso. Não é que o sofrimento seja necessário para viver.
Não sugiro que para viver devemos levar uma vida em busca do sofrimento. Na verdade
falo a favor da ideia que o sofrimento é inevitável para todos. E este
sofrimento toma diversas formas e significados. O sofrimento é muito pessoal
para cada um.
Das
formas que o sofrimento toma, podemos denominá-lo com diferentes substantivos:
tormento, tristeza, depressão, dor, sufoco, aprisionamento, estagnação, etc.
Mas digo novamente, o sofrimento é pessoal, cada um pode relacionar o
sofrimento a distintas situações de vida.
O sofrimento é pessoal
Comecei
argumentando que o sofrimento é condição para viver. Mas o que é o viver? O
sofrimento é pessoal para cada um, é assim também com o viver. Se o viver for
pessoal para cada um, ele não pode ser definido objetivamente (viver é isso e
ponto final). Entretanto existe uma essência em comum do viver – ou seja, para todas
as pessoas – um caráter universal. Uma das essências do viver,
convencionalmente aceitado pela nossa cultura, é o “viver para ser feliz”.
Ótimo! Temos agora um esclarecimento sobre o que é viver. E temos também para o
sofrimento.
Sofrimento
e felicidade aparentemente não combinam, não podem coexistir. Seria a
felicidade um estado contínuo em que uma pessoa pode ser feliz por anos ou
décadas? Ou seria a felicidade fragmentos, breves momentos de felicidade?
Independente
da resposta que você der para essas questões pense como entraria o sofrimento em
cada um desses contextos. O sofrimento cabe nessas felicidades?
O sofrimento pode ser uma dica para o que é ser feliz
Vejamos:
muitas vezes as pessoas tentam eliminar o sofrimento. Em nossa sociedade
acontece recorrentemente: as pessoas escolhem formas rápidas para alívio de
sofrimento – por exemplo, tomam medicações. E não buscam mudar suas próprias
vidas. Ou seja, o contexto de sofrimento persistirá. Não existe pessoa que
sofre sem contexto. O sofrimento é útil. Ele serve para sinalizar que você não
está feliz. Serve para sua psique revelar a você que a vida pode ser melhor, e
que você merece mais.
Percebe
como aí existe uma necessidade de pensar o qual é o significado do sofrimento
na sua vida?
Se
você sofre, refletir sobre o seu sofrimento é necessário para ser mais feliz. Recapear
a estrada é melhor que tapar os buracos nela. Os tampões nos buracos funcionam
momentaneamente, por outro lado, inovar a totalidade da estrada será muito mais
duradouro.
Sofrimento
e felicidade podem ser entendidos, então, como opostos de um mesmo horizonte,
como polaridades. Se você está na polaridade do sofrimento, é possível migrar para
o outro lado do horizonte. Para tal, é necessário mobilização e atitude.
Sofrimento é positivo
Pensando
nesta utilidade do sofrimento, agora cabe a você torná-lo positivo. Sofrimento psicológico
e dor têm em comum que ambos sinalizam que algo está errado. Sinalizam que tem
algo provocando aquilo no seu organismo. São características evolutivas. Foram
sempre necessários, em toda a história da humanidade para mostrar que mudanças
são necessárias. No caso da dor no corpo, algo físico está acontecendo. No caso
do sofrimento psicológico, provavelmente existe uma relação com algo que você
está vivendo.
Carl
Gustav Jung, definiu a psicoterapia como “tratamento da alma”. Disse ainda que
a alma é a “matriz de toda ação, e,
consequentemente, de todos os acontecimentos determinados pela vontade dos
homens”. Portanto, atente-se a sua alma
ou psicológico. Se existe uma urgência por alívio de sofrimento, um dos
caminhos pode ser a psicoterapia. Ela é especializada na busca pelos
significados dos sofrimentos, e, por conseguinte, presta-se ao alcance das
felicidades.
Referências
JUNG, C. G. A Prática da Psicoterapia. Editora Vozes Ltda, Petrópolis, RJ. 1981.
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