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Perfeccionismo: ele interfere na sua vida?


Não é difícil encontrar uma pessoa que se considera perfeccionista. Talvez você seja uma delas.
Neste artigo discutiremos o que é o perfeccionismo e como ele se manifesta. Farei uma análise crítica dele também – não se preocupe, será uma análise prática e interessante. E por último você verá algumas dicas de como lidar melhor com esta característica – talvez até diminuir muito os comportamentos perfeccionistas.

O perfeccionismo na vida

Para falarmos sobre o perfeccionismo devemos primeiramente expor o seguinte: ele não é um conceito, isto é, não é um termo técnico para descrever um traço universal que é potencial da natureza humana. Ele é um termo que remete à um significado comum para as pessoas. Quando falamos que alguém é perfeccionista, entendemos que esta pessoa tem um ideal de perfeição nas coisas que faz e participa. Entretanto, cada pessoa é perfeccionista do seu próprio modo.
As pessoas perfeccionistas desejam fazer coisas almejando sempre o melhor resultado. Em uma atividade ou projeto, por exemplo, que devem entregar um produto para alguém, ou no mínimo tornar público este resultado para outra(s) pessoa(s), dedicam-se para um ideal. Este ideal deve satisfazer plenamente o autor do projeto: o perfeccionista.
O paradoxo é que apesar da tendência de desejar o melhor, este ideal improvavelmente acontece. É um ideal de perfeição. Aqui temos a origem do termo perfeccionismo. O perfeccionista se esforça para atingir a perfeição. Mas é possível atingir a perfeição? Daí vem o problema.
Se pensarmos que o perfeccionista quer a perfeição, mas nunca se satisfaz, temos duas possibilidades de interpretação: 1) A perfeição existe, mas ele nunca a alcança, ou 2) A perfeição é impossível, por isso nunca se satisfaz.
As duas possibilidades, no entanto, partilham de algo em comum: o perfeccionista nunca conseguirá o que deseja!
É uma triste realidade. Aparentemente, o perfeccionismo parece ser um caminho de sofrimentos e tormentos, em busca de algo que nunca há de se concretizar! O que nos resta fazer é aprender com esta imposição de eterna negação da perfeição. Principalmente os perfeccionistas podem tirar o maior proveito disso.

As manifestações do perfeccionismo

Se você é perfeccionista, já tem em mente algum exemplo. O meu palpite é que se trata de alguma situação que trás algum desconforto, e que se fosse possível, você mudaria a forma que lida com essa situação.
Vou falar de um exemplo recorrente em nossa atual cultura de interatividade social por meio de mensagens e WhatsApp. Imagine que você quer enviar uma mensagem para alguém – talvez uma pessoa que te atrai para um relacionamento romântico. Mas você não consegue ficar satisfeito com nenhuma mensagem que acaba escrevendo. E fica vários minutos pensando qual a melhor mensagem mandar, mas não consegue decidir. No final você acaba mandando uma, sem se sentir totalmente bem com ela. E para piorar, o resultado não é aquele que você esperava – a outra pessoa não responde ou responde de um jeito que você não achou legal.
Bom, não existe fórmula mágica para melhorar este cenário. Senão, bastaria eu te dizer: "você fica sofrendo desse jeito, escreva a primeira coisa que vem na cabeça mesmo na próxima vez". Mas você sabe que não é tão simples assim.
Outro exemplo é o perfeccionismo no trabalho. Vamos supor que você deve entregar um projeto daqui uns dias. Você sabe o que deve fazer para finalizá-lo, e consegue ter um rendimento satisfatório durante a semana. Entretanto, você acaba agarrando em vários momentos, e mais ainda com o resultado final. E por quê? Porque você sabe que o projeto talvez poderia ficar melhor de outro jeito: se fizesse o design de outra forma, se escrevesse o texto considerando outro aspecto, ou se fizesse assim ou assado o chefe poderia gostar mais. Você pode até fazer as alterações antes de entregar, mas mesmo depois delas, mais uma ideia de mudança aparece, e você permanece insatisfeito com o resultado. E depois que você entrega, vêm novos pensamentos: “eu poderia ter feito daquele jeito”, ou “ acho que o chefe não vai gostar”.

Como lidar melhor com o perfeccionismo

Então vamos à uma breve lista com orientações preliminares sobre como melhorar o seu aspecto perfeccionista. Lembrando: são orientações preliminares, elas não bastarão para ajudar conclusivamente. Você deve considerá-las para o futuro, entretanto pode haver questões subjacentes relacionadas ao seu perfeccionismo que uma ajuda profissional pode ajudar muito!
1 – Princípio da incerteza na vida
Esta informação pode trazer muito mais ansiedade que aliviar qualquer tensão. Entretanto, é necessário você saber: nada na vida é certo. Não é possível prever. Expectativas podem ser grandes vilãs.
Pense neste análise comparativa: tudo na vida é energia. Para a física, toda a matéria é formada de energia. Os átomos são formados por cargas energéticas. E esta energia subatômica está submetida ao princípio da incerteza, formulado inicialmente por Werner Heisenberg.
Porque nós, também formados de energia, não estaríamos submetidos à incerteza?
Portanto, saiba: mesmo que você alcance um resultado próximo ao perfeito que te satisfaça, não é garantia que os outros irão apreciá-lo assim como você. Não é possível prever o que vem das coisas que você faz.
2 – Não é responsabilidade sua o que os outros pensam ou falam
Cada um tem sua história de vida. Você tem uma história complexa que te fez o que é hoje, bem como os outros têm a deles. Não se sinta mal pelo que os outros falam ou pensam do que você é ou faz. Você é o melhor juiz da pessoa que você é – portanto deve ser o único juiz.
Mesmo que você seja criticado, você é a melhor pessoa para decidir se a crítica é útil para você ou não. Filtre o que as pessoas falam. O que realmente importa é sua opinião sobre você mesmo, e o seu próprio bem-estar. O seu bem-estar é responsabilidade sua. E o bem-estar dos outros é responsabilidade deles.
Então porque não começa a privilegiar o seu próprio bem-estar hoje?
3 – Tome consciência de suas sensações corporais e sentimentos
De forma geral, o perfeccionismo é um ideal. Todo ideal é uma abstração, é produto do raciocínio e do intelecto. Uma contemplação do racional.
À medida que este racional é privilegiado, rebaixamos a consciência das sensações corpóreas. E, além disso, a compreensão dos nossos sentimentos e sobre como eles interferem nas nossas ações também se rebaixa.
Perdemos o contato sobre como este ideal acaba nos fazendo mal. Sabemos que o perfeccionismo leva à um desconforto, mas é difícil mudar isso – pois sentimentos e sensações corpóreas estão rebaixados. Uma forma de entender isso é que estamos privilegiando este aspecto da racionalidade, mas ele deve ser integrado às emoções e sensações corporais. Fazendo isso, é possível entender como acabamos ficando mal com o perfeccionismo, e  como melhorar de vida.
Exemplo para integrar racional-emocional-corporal: Sente-se, feche os olhos, inspire fundo devagar e expire o ar também devagar – sempre consciente de sua respiração. Tente sentir cada parte do seu corpo ainda de olhos fechados. É um ótimo caminho para voltar a ter contato com sensações e emoções.
4 – Exercite autoconhecimento
Autoconhecimento é valorizado na nossa cultura, porém poucas pessoas de fato o praticam efetivamente. O verdadeiro autoconhecimento é um processo, ele não acontece em um momento de epifania e pronto. Ele deve ser recorrentemente praticado. Todos os dias, de preferência continuamente durante todas as horas.
No início será muito difícil! Mas saiba que após pratica, você será uma pessoa muito mais consciente de suas atitudes e das coisas que te fazem bem. E consequentemente muito mais feliz!

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