Pular para o conteúdo principal

“É só fazer isso...”: quem nunca ouviu esta quando tem um problema?

é só fazer isso resolve problema
Série de tirinhas "Psicóloga Direta/Honesta", satirizava a ineficiência de conselhos/ordens para mudar de vida. Pois considerava somente as variáveis objetivas para resolver os problemas, desconsiderando a dimensão subjetiva humana.
Créditos de Imagem: http://smartgirls.com.br/wp-content/uploads/2014/01/Psicologa-honesta-chocolate.jpg

Se você teve algum problema pessoal recentemente, deve ter se deparado com esta promessa de solução “É só fazer isso... e resolve”.

E você deve ter percebido que não foi tão simples assim. Pode ser que ainda esteja vivendo este problema, e já percebeu que nenhuma receita para o seu problema pessoal deu certo. E existe essa fórmula de solução para diversas coisas:

  • Está constantemente triste: “É só encontrar algo que te faz bem”;
  • Está ansioso: “É só parar de se preocupar com o que pode acontecer e aproveitar o momento”;
  • Perdeu o emprego: “É só ter paciência e não desistir”;
  • Gosta de alguém e não sabe como se aproximar: “É só ir lá conversar, o não você já tem”.
  • Tem problema com o chefe no trabalho: “É só respirar fundo e não ligar para as grosserias dele”.
  • Está com problemas no casamento: “É só manter a calma e conversar sobre os problemas”.

Enfim, há uma infinidade de conselhos mágicos que prometem fazer os problemas sumir em.
Mas na realidade, quem está vivendo o problema, sabe que é muito mais complicado do que seguir uma receita para resolvê-lo.

Prejuízos do "É só fazer isso..."

É possível que as tais receitas façam até mesmo a pessoa se sentir pior em relação ao problema. Mais ainda do que ela já está. Pois os discursos das pessoas manifestam a ideia de que é muito simples resolver os problemas, afinal, é só fazer UMA coisa que tudo estará em ordem.
Isso faz com que as pessoas sintam-se incapazes e desqualificadas para lidar com os problemas. E esta desvalorização as desencoraja a procurar uma solução por si mesmas, e seguem na busca por conselhos de terceiros ou do Google. Afinal, "se é simples de resolver como os outros falam e não consigo, deve ser porque não dou conta mesmo". Este raciocínio faz com que a pessoa termine em um ciclo de desvalorização pessoal, e o prosseguimento nele faz com que se sinta cada vez pior.
Mas na verdade, nunca “é só fazer isso” para resolver um problema pessoal. E não há um guia ou manual de instruções que revelam a solução. Pois todo conselho despreza a experiência pessoal de cada um que o recebe, e parte do ponto de vista do autor deste conselho.
E se dar conta da sua experiência de vida é fundamental para conseguir lidar com os problemas pessoais. Pois a sua experiência revela diversas coisas valiosas: o que te faz bem, o que te faz mal, o seu desejo pessoal e de quais recursos e habilidades pessoais você dispõe para enfrentar o problema. E quando você não consegue resolver um problema, não quer dizer que não tem habilidade suficiente, quer dizer que, talvez, ainda não se deu conta das habilidades que o problema requer. Às vezes não são as que você está usando no momento, falta descobrir quais são.

Do que precisamos, então?

Nossa sociedade carece de pessoas que escutam. Parece haver uma necessidade de encontrar soluções rápidas para os problemas, sem antes considerar a dimensão deles. Tive um professor na faculdade de psicologia que defendia que essa deficiência nas pessoas é resultado da educação que recebemos. Na escola, por exemplo, não éramos ensinados a desenvolver pensamento integral, holístico ou abrangente. Éramos ensinados a pensar na lógica, na linearidade, em relações unilaterais de causa e efeito, etc.
Mas a subjetividade humana não funciona de acordo com esses princípios. Ela é multidimensional, e merece a respectiva consideração. Por isso, o pensamento “é só fazer isso...” não é suficiente, porque desconsidera a natureza da subjetividade humana.

Finalizo este texto, e ficarei grato se você deixar um comentário com sua opinião para enriquecer a reflexão aqui deixada.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Psicólogo é para doido? Resposta definitiva

A série de TV  Community, retrata de forma cômica e caricata como todos temos peculiaridades e "traços de loucura". Afinal, psicólogo é para doido? A resposta simples é: depende! É uma pergunta que tem resposta sim, mas precisamos entender a pergunta para respondê-la. Primeiro, o que você está chamando de doido? Se existem doidos, existem pessoas normais? Supostamente sim, certo? Se tem gente doida, também tem gente não-doida, que é o que no senso comum dizemos que são pessoas “normais”. Se você chama de doido aquelas pessoas que precisam de cuidados especiais no quesito saúde mental, então você está se referindo às pessoas com transtornos mentais e com sintomas psicóticos. Psicólogos também tratam e ajudam essas pessoas. Então, olhando por este lado, psicólogo é para doido sim. Mas a resposta mais adequada é: psicólogo é para doido também ! O também é explicado pelo fato de psicólogos terem condições de ajudar (e muito) pessoas que não sofrem de transtornos

Auto-suporte

O assunto de hoje é auto-suporte (ou auto-apoio). Escolhi este tema devido a uma reflexão pessoal à qual a prática clínica tem constantemente me levado nos últimos anos. Não sei se é um sintoma da nossa sociedade contemporânea, mas tenho visto com muita frequência uma dificuldade geral das pessoas em suportar-se a si mesma (o pleonasmo é intencional), e tendendo a buscar apoio externamente; no meio, ou no outro. E neste contexto, a palavra suporte refere-se desde o aspecto emocional – buscar desfazer-se da dependência emocional do outro – até aspectos objetivos – mobilizar a energia necessária para correr atrás de seus objetivos de vida por conta própria. Tenho visto, a cada dia, as pessoas buscando apoio no outro de forma exagerada, de modo a delegar ao outro a responsabilidade de fornecer as ferramentas necessárias para seu crescimento. Isso acontece, principalmente, devido ao modo como lidamos com nossas frustrações. Um exemplo comum, utilizado por Perls (1977), refere-se a um

Como seriam os psicólogos no mundo de Harry Potter?

Nós, psicólogos do Janela Interna, somos fãs da série e do mundo Harry Potter, a prova disto está no tema deste artigo. 😊 Resolvemos nos aventurar um pouco na fantasia e analisar como seriam os psicólogos no mundo bruxo. Vamos contar a você o que imaginamos neste artigo. A profissão teria o mesmo nome no mundo bruxo? Sabemos que algumas profissões só existem no mundo bruxo, como é o caso dos aurores, dos obliviadores e dos fabricantes de varinhas. Mas outras são comuns aos mundos trouxa e bruxo. Posso citar como exemplo a profissão de professor, de enfermeira(o) (Madame Promfrey, para representar) e de jornalista. Por outro lado, há uma profissão que tem o mesmo objetivo tanto no mundo trouxa quanto no bruxo, porém os conhecimentos para cada uma e os nomes são diferentes. É a profissão de Curandeiro, que equivale à profissão de Médico. É provável que a profissão de psicólogo leve um nome distinto no mundo bruxo, pois é um caso semelhante ao dos Médicos e Curandeiro