O que psicoterapia tem a ver com religião? Eu posso começar
respondendo a essa pergunta da maneira mais simples: nada. Inicialmente,
psicoterapia nada tem a ver com religião. A inspiração para este tema veio das
inúmeras situações em que já presenciei muitas pessoas buscando psicoterapeutas
com a ressalva de que seguissem alguma religião específica, e/ou clientes que,
quando querem falar sobre religião no consultório, perguntam ao psicoterapeuta
se ele compartilha da sua crença, acreditando que, em caso negativo, este não será
capaz de compreendê-lo integralmente. O fato é que, se as pessoas colocam essa
exigência, na cabeça delas a psicoterapia está diretamente relacionada com
religião.
Porém, isto não é verdade. Pelo menos, não da forma como normalmente
se imagina. A psicoterapia, como descrito no nosso texto anterior, baseia-se em abordagens psicológicas, que seguem
determinadas metodologias e eixos epistemológicos, auxiliada por teorias e
técnicas. Dessa forma, não está diretamente relacionada com nenhuma religião.
Porém, isso não significa que o cliente não deva tratar de temas
religiosos nos seus atendimentos. Pelo contrário, a sessão de terapia é um
momento do cliente, onde ele pode e deve falar sobre o que quiser, qualquer
coisa que o mobilize, seja negativa ou positivamente. Principalmente num país
como o Brasil, onde sabemos que a religião se faz muito presente na vida do
nosso povo por meio de múltiplas formas de adesão religiosa, esta se mostra
como uma parcela significativa no cotidiano das pessoas, sendo mais do que
necessário considerar sua devida importância, inclusive no contexto
terapêutico, no qual o cliente será compreendido dentro de sua crença,
independente de qual for, a partir da visão que ele próprio possui e vem
compartilhando com o psicoterapeuta. Deste modo, para qualquer que seja a opção
religiosa do cliente, sua experiência será considerada e valorizada partindo
daquilo que é real para ele e que faz parte do mundo dele.
Isso significa que qualquer pessoa, independente de sua crença, pode
ter acesso a qualquer psicoterapeuta. O fato de um psicólogo não compartilhar da
mesma religião que você não diminui em nada a capacidade dele de compreendê-lo
e auxiliá-lo na sua caminhada, da forma que você se sinta mais confortável.
Além disso, se um psicoterapeuta se utiliza “do relacionamento
terapêutico para induzir a pessoa atendida à convicção religiosa, política,
moral ou filosófica [...]” (RESOLUÇÃO CFP N.º 010/00), está cometendo uma falta
ética, indo contra o Código de Ética do Psicólogo estabelecido pelo Conselho
Federal de Psicologia (CFP).
Por isso, da próxima vez que for procurar um psicólogo, não se preocupe
tanto em investigar qual a crença religiosa que ele segue, certo? Tenha certeza
de que, independente disso, você será acolhido e ouvido com o mesmo cuidado
inerente à profissão de psicólogo.
Comentários
Postar um comentário