Muitos dos textos escritos aqui
no blog utilizam terminologias que podem, inicialmente, parecer estranhas ao senso
comum, mas que têm uma razão para serem utilizadas e que vieram de uma
abordagem psicológica chamada Gestalt-terapia. Ainda que a intenção do blog
seja elucidar temas da psicologia de forma geral, sem estarem necessariamente
ligados a uma abordagem específica, como os autores do blog são adeptos desta abordagem,
algumas vezes é impossível não utilizar essas terminologias, uma vez que a
nossa visão de mundo já perpassa pelos postulados da Gestalt-terapia. Além disso, a Gestalt-terapia não é apenas uma abordagem psicológica, mas também uma filosofia de vida, uma vez que defende formas autênticas de se estar em relação, sem joguinhos e manipulações. Por este motivo, achei importante escrever hoje sobre o que é a
Gestalt-terapia e suas principais diferenças em relação às abordagens mais
difundidas.
Inicialmente, faz-se necessário
explicar o termo. A palavra Gestalt vem do alemão, e significa
forma, configuração. O termo é proveniente da Psicologia da Gestalt, uma das
teorias que serviram de base para a criação da Gestalt-terapia.
A Gestalt-terapia surge oficialmente
em 1951. Porém, devido a suas ideias revolucionárias, é somente na década de
1960 que encontra um terreno fértil para sua ampla difusão, devido ao contexto
histórico dos movimentos de contracultura. Tendo surgido neste momento, a
Gestalt-terapia coloca em questão o modelo social vigente, cujos principais
postulados, desde Descartes, que implantou o dualismo mente X alma, se baseiam
no uso excessivo da racionalidade, do pensamento e do empirismo científico.
Deste modo, a Gestalt-terapia coloca em questão a supervalorização dada ao uso
da razão em detrimento da emoção, e implementa uma visão holística, segundo a
qual o ser humano é composto por três níveis, de igual importância: racional,
emocional e fisiológico. Esses três níveis devem estar presentes em consonância
e de forma complementar, e não do modo paradoxal e dicotômico como a sociedade
contemporânea estabeleceu. Um exemplo de como é possível utilizar sentimento e pensamento
de forma harmônica seria no momento de tomar uma decisão. Para decidir, por
exemplo, se deixo meu emprego por um outro em que a carga horária é maior, mas
em compensação me pagará mais, posso me valer de experiências passadas em que
trabalhei por longas jornadas diárias, e recordar como me senti naquela época.
Ao recordar que uma jornada de trabalho muito longa me deixava exausta, sem
tempo de cuidar de mim e de me dedicar a outras atividades que também são
importantes, posso trazer à tona sentimentos de infelicidade e sobrecarga que
experimentei naquela época, e usar estas constatações em parceria com os
aspectos racionais (vou ganhar mais, e posso usar esse dinheiro para investir
futuramente) para me ajudar a tomar minha decisão. Quando aprendemos a lidar
com nossas polaridades de forma harmônica, experimentamos a nós mesmos de uma
forma completamente nova e mais leve.
Outro aspecto da metodologia da
Gestalt-terapia tem a ver com a importância do aqui-e-agora e da
presentificação da experiência. Isto quer dizer que o Gestalt-terapeuta vai abordar
a sessão com o cliente valorizando a relação terapêutica e os sentimentos,
pensamentos e sensações experimentados no momento da sessão. É possível ler de
forma mais detalhada sobre este tema no nosso post anterior.
O objetivo da Gestalt-terapia é a
awareness, termo em inglês que significa,
em tradução adaptada, “conscientizar-se”, “dar-se conta”. Apenas depois que me
conscientizo dos meus padrões de comportamento, pensamentos enrijecidos e
principais bloqueios nas minhas relações interpessoais é que posso decidir o
que fazer com esses aspectos de mim mesma. Além disso, somente a
conscientização plena é capaz de fornecer as ferramentas necessárias para uma
mobilização de energia rumo à transformação.
Finalmente, na Gestalt-terapia, o
cliente é a melhor pessoa para dizer dele mesmo. É ele quem vive, sente e passa
24h por dia com ele mesmo. A minha função como psicoterapeuta é acompanhá-lo e ajudá-lo
nessa auto-conscientização, podendo expressar minha opinião, mas deixando bem
claro que é o que eu penso, e que não caracteriza uma verdade absoluta sobre o cliente. Só ele é capaz de avaliar aquilo que faz sentido, e o que
não faz.
Muito obrigada ! ajudou me muito a perceber conceitos que irei explorar num trabalho
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